Tuesday, May 30, 2023



O Equilibrista Francês
(Ilton Ornelas)


Era uma vez
Um equilibrista francês.
Vou te contar o que ele fez...
Vou te contar o que aconteceu
Uma tremenda estupidez, viu...
Sob o céu cinza da cidade,
Ao som da dissonância urbana,
Um desafio à gravidade.
Entre os gigantes de concreto,
Naquele abismo vidro, aço...
E a pressa metropolitana,
Ele prendeu seu arame.
O singular ballet de um homem,
A ousadia de um artista,
A destemida animação.
Sob seus pés gente nas ruas
Em correria desvairada
Abarrotadas avenidas
A estética da confusão
Onde as pessoas não se olham
Sem tempo para se encantar
Já ninguém para, ninguém nota
O que é sublime, encantador
Um formigueiro que não cessa
nem por, ao menos, um segundo
Nos rostos destes transeuntes
Uma dissimulada dor
pressa, distração e desdém
Em cada passo dessa gente
Do povo e do equilibrista
A vida pende por um fio
Mas mesmo que ninguém perceba
O real valor que a arte tem
O equilibrista não desiste
E lá no alto ele persiste
Em passos firmes se mantém

No coração da cidade
Sem tempo pra se encantar
Pessoas na corda bamba
Pessoas sem se importar